Porção Semanal de Haazinu e Rosh Hashaná (האזינו, escutai)
Deuteronômio 32:1 - 32:52
A Cabalá nos ensina que um dos sentimentos mais fortes de tristeza para o ser humano advém do estado de separação. Nos sentimos tristes ao despedir-nos de um amigo que vai mudar de cidade ou ao dar tchau para uma pessoa querida que não veremos por muito tempo. Os pais choram no casamento dos filhos: por alegria, com certeza, mas também pela vida separada que começa a partir dali.
O divórcio, o término de um namoro e, em último caso, a morte, são eventos que nos colocam frente a frente com a separação e podem facilmente ser contados entre as experiências mais tristes de um ser humano.
É nos momentos de separação que vemos como as emoções podem surgir em nós de maneira intempestiva e descontrolada. Quando nos vemos forçados a nos separar de algo, percebemos que não temos controle das coisas ao nosso redor, que não podemos congelar o tempo, que não podemos manter para sempre tudo o que queremos.
Por conclusão lógica, o sentimento de união e reconciliação estão entre as maiores felicidades que um ser humano pode experimentar. Rever uma pessoa amada depois de anos distante ou se reencontrar com a família ou com amigos depois de um período de ausência podem chegar a trazer lágrimas de felicidade aos nossos olhos.
No entanto, a Cabalá ensina que como qualquer par de opostos, separação e união, na verdade, são duas faces da mesma moeda. Uma não pode existir sem a outra e, portanto, mais do que opostas, ambas são complementares, assim como a luz e a escuridão, ou o sol e a chuva.
Nossa vida toda pode ser descrita como movimentos de separação ou de união. As chamadas “transições” ou “época de mudanças” nada mais são do que períodos em que estamos nos separando de algo passado, para unir-nos a algo novo e futuro. Ao entendermos isso e a relação entre separação e tristeza, e união e felicidade, fica fácil ver que, num mundo ideal, nossas transições devem nos separar de coisas que gostamos (deixando-nos tristes) para irmos encontrar coisas novas que, se possível, devem nos deixar alegres.
Se durante uma transição vemos que aquilo do que estamos nos separando nos causa alegria, podemos ter certeza que havia algo de errado nesse período passado de nossa vida. Se terminamos um relacionamento e nos sentimos felizes, é sinal de que esse relacionamento tinha algum problema. Se me separo de uma situação e isso me dá um sentimento de felicidade, é porque essa situação em si era negativa.
Quando, no entanto, a separação é triste como deve ser, podemos saber que o “remédio” para ela está na união. Não é à toa que em períodos difíceis de transição algo que nos faz muito bem é estar com os amigos e familiares.
Raramente temos a capacidade de evitar as separações e as angústias que ela traz consigo. Mas sempre temos a possibilidade de aumentar nosso sentimento de união estando com pessoas amadas e queridas.
A separação e a tristeza vêm sozinhas, mas a reunião e a felicidade dependem de nossa iniciativa. Para ser triste e sofrer a angústia das separações, não é preciso fazer nada, mas, ser feliz, depende de nós.
YAIR ALON