segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Moisés e Jesus; A Lei e o Amor



Moisés trouxe a lei ao mundo. Jesus traz o amor. Moisés é necessário, para que Jesus seja possível. A lei é amor imposto; o amor é lei espontânea. A lei é de fora; o amor é de dentro. Lei é externa, amor é interno.
O amor só pode acontecer quando há certa ordem, certa disciplina, certa lei. O amor não pode existir na selva. Moisés civiliza o homem, Jesus espiritualiza o homem. É por isso que Jesus diz repetidas vezes: “Não vim para destruir, mas para cumprir”.
Moisés nos deu os mandamentos, Jesus nos dá uma visão desses mandamentos. Uma pessoa pode seguir os mandamentos em um nível formal, superficial. Pode ser tornar justa, puritana, moralista; no fundo, entretanto, nada muda: tudo permanece o mesmo. A velha escuridão ainda está lá; a velha consciência ainda está lá. Nada mudou, de fato; você apenas pintou a superfície. Agora você está usando uma bonita máscara. Não há nada de errado com isso – se o seu rosto é feio, use uma máscara, pelo menos poupará os outros de vê-lo. Mas a máscara não pode mudar seu rosto feio. Nunca se esqueça, por um único momento, de que a máscara não é o seu rosto. É preciso transformar seu rosto também.
Moisés deu à sociedade uma disciplina muito tosca. Não podia ter feito melhor, não havia como. A consciência humana existia de um modo muito, muito primitivo. Um pouco de civilização era mais do que se poderia esperar. Mas Moisés preparou o caminho, e Jesus é o cumprimento. O que Moisés começou, Jesus completa. Moisés ergueu a fundação, Jesus ergueu o templo inteiro. Aquelas pedras na fundação têm de ser toscas e feias. Só por cima dessas pedras toscas e feias um belo templo de mármore pode ser erguido. Lembre-se sempre disso: Jesus não é contrário a Moisés, mas os judeus o interpretaram erroneamente, porque Moisés fala de lei e Jesus fala de amor.
Para os judeus, particularmente os sacerdotes, os políticos, parecia que a lei seria destruída por Jesus; por isso, zangaram-se. E estavam certos. Em certo sentido, a lei seria destruída, porque uma lei superior estava vindo. A lei inferior teria de ser abandonada para que uma superior entrasse.
A lei depende do medo; a lei depende da ganância; a lei pune o indivíduo. A ideia central da lei é a justiça, mas a justiça não basta, porque é crua e dura, violenta. Só a compaixão pode permitir que seu ser desabroche, para que você alcance o topo. A justiça, não. Ter lei é melhor que não ter; mas, comparada ao amor, a própria lei é sem lei. Ela é relativa, porque depende dos mesmos males contra os quais luta.
Alguém comete um assassinato, e a lei o assassina. Faz a mesma coisa com essa pessoa que ela fez com outra. Não é uma atitude superior, embora seja justa. Mas não é religiosa; não possui espiritualidade. É matemática. Ele matou uma pessoa... a lei o mata. Mas se matar é errado, então como a lei pode estar certa? Se o ato de matar é errado, então a lei também comete erro. Depende do mesmo mal, lembre-se disso.
Quando Jesus começou a falar de amor, as pessoas que seguiam as leis ficaram com muito medo, porque sabiam que, se a lei fosse ignorada, o animal escondido dentro de cada um viria à tona e destruiria toda a sociedade. Todos sabiam que seu rosto era bonito apenas na superfície – no fundo, havia uma grande feiura. E quando Jesus lhes disse: “Tirem as máscaras”, eles ficaram com medo, com raiva. “Esse homem é perigoso; tem de ser punido e destruído antes que destrua toda a sociedade.
Mas eles não entenderam nada. Jesus não estava lhes pedindo que tirassem a máscara. Estava lhes dizendo: “Trouxe a alquimia, para que seu rosto verdadeiro se torne belo. Para que a máscara? Para que esse peso? Para que essa coisa plástica? Posso lhes dar uma lei superior que não requer medo, não requer ganância, não requer imposição externa; ela cresce em seu ser por causa do entendimento, não do medo”. Lembre-se, esta é a diferença: a lei vem do medo, o amor vem do entendimento.
Moisés é necessário, mas também tem de ir embora; ele já fez sua parte: preparou o terreno. Quando Jesus aparecer, o trabalho de Moisés estará cumprido.
Mas os judeus ficaram zangados. É muito difícil as pessoas se desligarem do passado. Moisés tinha se tornado central na mente judaica. Eles achavam que Jesus era contrário a Moisés. E assim tem sido por todas as eras – mau entendimento.
Os hindus achavam, na índia, que Buda era contrário aos Vedas – o mesmo problema, exatamente o mesmo. Buda não é contrário aos Vedas – em certo sentido, sim, mas só em certo sentido. Ele traz algo das profundezas, e quando essas profundezas se tornam acessíveis a você, os Vedas não são mais necessários. Ele parece, enfim, ser contrário – faz os Vedas parecerem inúteis. E esse é todo o processo de Jesus: cumprir Moisés e ao mesmo tempo torná-lo inútil. A nova dispensação chegou.
Jesus era um homem de amor, de imenso amor. Amava esta terra, amava o cheiro da terra.  Amava as árvores, amava as pessoas. Amava as criaturas porque só assim se ama o criador. Se você não elogia o quadro, como pode elogiar o pintor? Se não elogia a poesia, como pode elogiar o poeta?
Jesus é afirmativo, positivo. E ele sabe um fato muito significativo, quase sempre presente em seus dizeres: Deus é uma abstração; você não pode se colocar face a face com Deus. “Deus” é uma abstração, assim como a “humanidade”. Você depara com seres humanos, mas nunca com a humanidade. Você sempre depara com o concreto. Nunca encontrará Deus abstrato, porque ele não tem rosto algum. Ele não tem rosto. Você não poderia reconhecê-lo. Então, onde o encontraria?
Olhe cada olho com que deparar; olhe cada ser com que deparar. Eles são Deus na forma concreta: Deus materializado. Todas as pessoas são encarnações de Deus – as rochas, as pedras, as pessoas, e tudo o mais. Ame as pessoas, ame as árvores, essas estrelas, e através desse amor, você começará a sentir a imensidão de ser. Mas terá de passar pela pequena porta de um ser em particular.
Jesus foi muito mal interpretado. Foi mal interpretado pelos judeus, e ele era o clímax da inteligência deles, aquele a quem esperavam havia eras. E quando vivo, foi rejeitado. E foi mais mal interpretado ainda pelos cristãos. Um grande homem de afirmação foi convertido num homem de negação. Os cristãos reproduzem Jesus como um indivíduo muito triste, de expressão pesarosa, tão amargurado como se estivesse sento torturado. Isso é falso, não se aplica a Jesus! Não pode se aplicar a Jesus! Do contrário, quem mais sorriria, e quem mais amaria, e quem mais celebraria? Jesus é uma celebração do ser, a mais elevada celebração possível.
Osho – Do Livro “A Flauta Nos Lábios de Deus- O Significado Oculto Dos Evangelhos”

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