Na porção dessa semana, o texto descreve como o Tabernáculo deveria ser construído pelos israelitas. Dentre as instruções, estava a obrigatoriedade de se fazer uma mesa na qual doze pães deveriam ser expostos semanalmente. Esses pães eram chamados de “lechem hapanim”.
A tradução de “lechem hapanim” não é fácil. Em geral, o termo é vertido como “pão de exibição”, mas sua tradução literal é “pão das faces”. O cabalista Avraham Mordechai de Gur sugere que aqui está oculto um antigo ensinamento cabalístico: o de que a realidade ao nosso redor é, na verdade, subjetiva.
Segundo Rebe Avraham, o pão era chamado de pão das faces pois cada um que olhava para as broas via seu próprio rosto estampado nelas. Uma pessoa gentil, boa e piedosa “experimentava” o pão como sendo bom, fresco, macio e quentinho. Uma pessoa cínica, amargurada e rancorosa “experimentava” o pão como sendo duro, velho, seco e frio.
Quando eu estava na faculdade, em minhas aulas de literatura tive que ler um livro em que o autor, Silvano Arieti, discute o processo criativo que leva um artista a criar um objeto de arte. O artista percebe um objeto do mundo e tenta interpretá-lo por meio de um sistema imagético. É um processo complexo. Segundo o autor “pensamentos e sentimentos anteriores sobre um objeto influenciam a maneira com que o artista o percebe diretamente. Em outras palavras, as experiências de vida do artista – tudo que o artista sabe e sente sobre o objeto – influenciam a maneira com que ele enxerga o objeto”.
O que o autor está dizendo é válido não só para os artistas, mas para todos os seres humanos; e é um ensinamento cabalístico tão antigo quanto a própria Cabalá. O modo como percebemos a realidade é influenciado por nossas memórias, por nossas sensações, por nossas experiências e por nosso jeito de ser. Pessoas diferentes podem ver exatamente a mesma coisa mas ter reações totalmente diferentes ao que viram. No caso dos pães do tabernáculo, o pão era sempre o mesmo, mas o modo de experimentar o pão variava de acordo com o “rosto” – a internalidade – de quem o observava.
Agora, mais importante do que entender esse profundo ensinamento cabalístico, é tomar consciência que cada um de nós tem o poder de definir como queremos encarar a vida. Todos moldamos as experiências externas com base em nossas atitudes internas; mas, caso eu não esteja gostando das experiências que venho tendo, eu posso – e devo – mudar minhas atitudes internas. Assim, o ideal é que estejamos sempre tentando desenvolver uma visão de mundo positiva, para que, consequentemente, também possamos experimentar a vida de maneira positiva.
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